sexta-feira, 26 de abril de 2013

Deus é Pai (Composição: Fábio de Melo)

Quando o sol ainda não havia cessado seu brilho,
Quando a tarde engolia aos poucos
As cores do dia e despejava sobre a terra
Os primeiros retalhos de sombra
Eu vi que Deus veio assentar-se 
Perto do fogão de lenha da minha casa


Chegou sem alarde, retirou o chapeu da cabeça


E buscou um copo de água no pote de barro
Que ficava num lugar de sombra constante.


Ele tinha feições de homem feliz, realizado


Parecia imerso na alegria que é própria
De quem cumpriu a sina do dia e que agora
Recolhe a alegria cotidiana que lhe cabe.
Eu o olhava e pensava: 
Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom viver essa hora da vida
Em que tenho direito de ter um Deus só pra mim.
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos,
Puxar a caneta do seu bolso 


E pedir que ele desenhasse um relógio


Bem bonito no meu braço
Mas aquele homem não era Deus,


Aquele homem era meu pai


E foi assim que eu descobri 
Que meu pai com o seu jeito finito de ser Deus
Revela-me Deus com seu
Jeito infinito de ser homem.